Sinto o palpitar do meu coração acelerado, corredor de maratona meia-boca pela praia da minha adolescência, e esqueço como se respira como gente e não como cachorro cansado.
"É suficiente" digo e suspiro. Meus pés tremem de frio e sinto que no mundo não há mais nada além de silêncio, ausência e vazio. Ou estou confundindo o mundo com o meu coração?
Quero sorrir e quero sorrir na vida, mas aqui e agora só estou deitada. Deitada e sozinha. Quero pensar no lado bom da vida, mas só consigo pensar no tempo presente. Queria poder sentar e sentir novamente minhas pernas: "lindas pernas" "morenas e graciosas" já me disseram.
Deixo-me estar, sinto-me. Entendo-me. Autoterapia em lençóis brancos, de graça. Choro sem lágrimas porque sinto que aqui e agora não reina a felicidade. Deixo-me estar novamente, mas sem suspiros nem lamentos. Apenas existo, como ser pensante e como ser vivo.
Queria ter os olhos abertos para fechá-los novamente e observar atenta a transição da luz e escuridão, para experimentar novamente essa experiência sensorial tão única como cotidiana e agradecer ao universo por vivê-la.
O frio. Lembro de ler "piececitos de niño/azulosos de frio"* e me lamentar por dentro. Queria estar sentindo a areia morna nos dedinhos e beijar as ondas do mar com o corpo inteiro. Agora estou em lençóis brancos e não quero. Me autoproclamo dona da minha opinião e como primeiro decreto no reino da verdade grito em silêncio: não quero, não quero!
Não há resposta, lógico. Só há silêncio e eu continuo não querendo.
Abro os olhos. Estou sentada na poltrona de couro e só há branco ao meu redor. Branca é a cama ao meu lado, as paredes, as janelas. Alguém está segurando a minha mão e sorrio: estar vivo é um privilegio desvalorizado.
*Piececitos - Gabriela Mistral
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